domingo, 30 de junho de 2013

Não é brincadeira! (parte 042)


Da série "escola não é brincadeira":



(Não entendeu? Progoogle....!)








sábado, 29 de junho de 2013

Não é brincadeira! (parte 041)


Da série "escola não é brincadeira":


(É isso!)






sexta-feira, 28 de junho de 2013

Último dia

F É R I A S !
     Hoje se encerra o 2.º bimestre, o semestre, e mais uma etapa de parte significativa de nossas vidas.
     Trabalho com educação e esse é o meu 'produto' final, e produto em matemática é o mesmo que multiplicação. Multiplicar, semear, aproveitar, render, lucrar, frutificar, ganhar; os sinônimos podem ser muitos. O 'resultado' final de toda essa história, entretanto, não condiz com a realidade.
      Explico-me:
     Ao fazer um balanço desses meses (sim, eu perco tempo com isso sim) observo o mesmo de sempre: há um desinteresse e alienação brutal por parte dos alunos. E não só em matemática, não só em história, gramática, química ou literatura. Todos os professores reclamam. Todos os alunos se queixam. Nenhuma solução à vista.
     Sinto-me enxugando gelo, e isso em ambas as escolas (pública e particular). Sou cobrado pela sociedade, sou exigido todo o tempo, mas não há contrapartida em proporções equivalentes. A educação vai mal mesmo, muito mal. É fato. E eu sei disso pelo lado de dentro.
     Nessa última semana, ao longo dos dias e com os poucos alunos que vieram, refleti com todos esse déficit de aprendizado, dedicação e interesse pelo conhecimento. Debati circunstâncias, insisti que é preciso se dedicarem mais. Enfim, tratei acerca do futuro deles. Simples assim: do futuro deles.
     Fui ouvido? Sabe-se lá.
     Caos. Descanso por alguns dias. Boas férias!



quinta-feira, 27 de junho de 2013

É difícil...



     É decepcionante como temas simples (e de solução simples) transformam-se em discussões inúteis e esdrúxulas. Com professores ocorre o mesmo.
     Estávamos no cafezinho. Falávamos sobre o fato de algumas escolas conseguirem obrigar o uso de uniformes, ou de ao menos uma camiseta branca com o emblema da unidade escolar. O que facilita na identificação do aluno, ajuda na segurança e nos protege de 'invasores'.
     Aí deu-se o caos.
     Um defendeu que alguns alunos não teriam condições de pagar por uma camiseta. Outro, defendeu que sim. Outro, afirmou que o Estado deveria arcar com esse custo.
     Enfim, ficou-se numa discussão quase que ideológica, apaixonada, sobre temas diversos e múltiplos temas em paralelo. E foi só.
     É incrível como o ser humano sabota a si mesmo. E como é difícil chegar a um consenso mínimo, uma solução, a um ponto definitivo.
     Enquanto discutimos pontos periféricos, perdemos tempo, amizade, e deixamos de resolver uma série de temas importantes. Uma pena de fato.
     Enquanto escrevo, agora, segue a discussão apaixonada, com exemplos longuíssimos e apartes distantes da realidade. Mas e o uniforme? Porque umas escolas conseguem e outras não? Porque umas escolas são respeitadas e outras não? Eis a questão.
     Segue o debate, o embate e o combate. Solução mesmo: nenhuma.
     Caos. Indignação. Decepção.





quarta-feira, 26 de junho de 2013

Santa Maria - RS


     Parece que o episódio de Santa Maria não servirá para muita coisa. Uma pena. Mais de 200 vidas humanas por nada...
     Ao menos não no que diz respeito ao aprendizado para evitar futuras tragédias.
     Falo isso observando as instalações da escola pública onde trabalho. Aqui, como em tantas outras, não há treinamento ou orientações para emergência, saídas e sinalizações, ou sequer (pasmem!) extintores de incêndio!
     A situação é de fato crítica. 
   Imaginem! Uma escola gigante sem um único extintor de incêndio! É realmente um absurdo...
     Os únicos que encontrei, para ser justo, tinham prazo de validade vencido: maio de 2007.
     Depois, quando outras tragédias acontecerem, ninguém vai dizer que não foi avisado...
     Solicitei informações com a direção. Logo me olharam com desconfiança. Falei com alguns colegas, a maioria não deu atenção. Busquei na internet informações de como proceder, para quem reclamar, etc., mas é difícil dar aulas em 2 escolas, 12 horas por dia e ainda cuidar da segurança da escola em que trabalho. Essa não é a minha função, lógico.  
     E isso é tudo.
   Tomara que não tenhamos nenhum incidente mais grave, já que as instalações são antigas e a fiação elétrica fica exposta em determinadas partes da escola. 
     E assim trabalha o professor brasileiro.





terça-feira, 25 de junho de 2013

Ei..!


(Escola Pública)

Volto a insistir: 

- Sala de aula com no máximo 20 alunos!

- Professor com salário decente!

- Professor com dedicação exclusiva à uma única escola!

- Material didático entregues no prazo correto!

- Estrutura mínima como xerox, computadores, internet, papelaria!

- Verdadeiro HTPC! Com professores comprometidos com a escola!

- Grupo de gestão escolar! (vide post de 20/06/13, "Utopia")

- Plano de carreira!

- Link efetivo do que é ensinado com a realidade!

Será que vamos pra rua também?

       O caos ainda segue. Só entrará de férias por um tempo...





segunda-feira, 24 de junho de 2013

Órfãos nas férias


      Esta chegando o recesso escolar (mais conhecido como férias mesmo), e até o dia 28 de Junho encerraremos o primeiro semestre de 2013.
   E é curioso como em dias assim, surpresas e imagens inusitadas acontecem.
    Os alunos até aqui aprovados deixam de vir nessa última semana, e aproveitam as merecidas férias de maneira antecipada. Entretanto, claro, há os que frequentam as aulas até o limite do último dia. Mas esses não são os mais dedicados, ao contrário, são os que encontram na escola o refúgio e o espaço adequado para suas delinquências e depredações. 
      Esses alunos andam ociosos, para cima e para baixo, de um canto a outro da escola, sem rumo. Mas hoje, com a escola quase esvaziada, parece que bateu neles uma espécie de depressão ou solidão...
      Observei muitos desses hoje, percorrendo corredores e acessos da escola, cruzando sempre com esses indivíduos, agora solitários.
      Tinham a postura de sempre, arrogante, prepotente e desafiadora ("quero ver quem me obriga a ir pra sala de aula", etc., etc., etc.), andando em grupos de 3 ou 4. Mas estavam sós. Hoje não tinham a quem chutar, xingar, rir ou debochar. Estavam órfãos de suas vítimas. 
      Incrível a expressão desanimada de cada um deles.
      Chegaram a me pedir que os liberassem, que abrisse o portão e os deixassem sair (algo impensável, em dias comuns) mas foi lógico que não lhes dei ouvidos.
      O resumo para mim ficou muito claro: os alunos dedicados e estudiosos se foram deixando para trás um cenário vazio, que por ora não lhes servem mais. Por outro lado, aos alunos indisciplinados, esse mesmo cenário agora não lhes faz qualquer sentido. Curioso não?
      Se eu não fosse ateu, citaria as escrituras sagradas: "os mansos herdarão a Terra". Mas deixa pra lá...
      Eu ri deles. Senti-me vingado de certa forma. 
      É como se tudo o que eu disse ao longo do ano, "estudem", "estudem", agora fizesse sentido. 
      O caos, por hoje, amainou-se. 



domingo, 23 de junho de 2013

Não é brincadeira! (parte 040)

Da série "escola não é brincadeira":





(Hahahahah..! Não entendeu? Problema seu! Hahahahaha..!)








sábado, 22 de junho de 2013

Escola é Sociedade


      Fico incrivelmente surpreso ao observar o quanto uma sala de aula parece-se com a nossa sociedade:
      Há sempre uma minoria que domina o conhecimento, que se destaca na organização, inteligência e eficiência. São a elite, naturalmente, que vive à parte do caos contínuo que é o dia a dia de uma classe.
      Há uma minoria (sim, minoria meeeeeeesmo) que marginaliza o grupo, que depreda a escola, quebra vidros, mesas, cadeiras e picha as paredes. Em hipótese alguma lhes passa pela cabeça a possibilidade de estudar (embora estejam numa sala de aula) ou respeitar qualquer regra. Ao contrário: eles sabem de cor cada uma das regras, conhece-as e descobre-as justamente para burla-las. São muito inteligentes. Ficam à espreita, observam e ambientam-se, até compreender  que todo o espaço é desorganizado e  que as pessoas se assustam com pouco, que aceitam qualquer opressão ou imposição, e que tudo à volta lhes é terreno fértil e hospitaleiro. Eles gostam da escola (sim!). Pois aquele é o único lugar onde ele (99% são meninos) é temido, respeitado e "tolerado".
      E entre esses grupos extremos, entre a "elite" e os "degradados", vejo uma imensa vastidão de alunos ociosos, preguiçosos e deficientes de aprendizado. São a maioria. Para mim, representam o maior desafio e os maiores problemas (pedagógicos) da escola. Dividem-se basicamente em 2 grupos muito distintos:
      O primeiro é negligente, inerte e moroso. A palavra preguiça lhes é a melhor definição. Em casa, têm ótima oratória, jogam vídeo game e são muito ativos. Mas apenas no que lhes interessam. Na escola, até conseguem desenvolver bem determinadas lições. Mas é preciso dispor de tanta energia e dedicação exclusiva do professor, que seria necessário abdicar de todo o resto sala para tanto. E isso, em escola pública, é impossível.
      O segundo grupo é o mais complexo. Compõe o maior número de alunos. Não sabem conceitos básicos como divisão, multiplicação, pontuação e acentuação. Chegam à 8ª série e não são capazes de escrever um texto de 7 linhas. Mas quando conseguem, sequer sabem ler o que acabaram de escrever. Foram empurrados pelo sistema de aprovação automática, e chegam aos últimos anos do ensino médio (quando não desistem antes) escondendo-se pelos cantos das salas de aula, fazendo trabalhos em grupo, e simulando o tempo inteiro que estão produzindo. Mas não estão. Às vezes tenho vontade de rir, observando-os à distância, tamanha a encenação de alguns para esconder que não sabem nada.
      E há também outros grupos em volta, como os professores, que fazem o papel de seus tutores; a direção escolar, que esta sempre espremida entre omissão e impotência; e o Estado, que desvia recursos e subjuga a todos; sem alar da família desses jovens e crianças, que cobram, cobram e cobram. Mas reclamam de participar das reuniões e conselho escolar, de acompanhar o aprendizado de seus filhos, de irem a escola, de impor limites a estes, etc., etc., etc. 
      Uma sala de aula pode ser uma sociedade inteira. Para mim ela o é há tempos!



sexta-feira, 21 de junho de 2013

Protestos


       Chegou ao fim mais uma semana. E esta não foi uma semana qualquer.
       Enfim, para quem é minimamente informado, já esta muito claro o que ocorreu no país por esses dias e quais os principais atores  e fatores das manifestações nação adentro.
       Minhas observações e o meu foco sempre foi o da sala de aula. E é sob este ponto que observo os últimos acontecimentos no Brasil.
       Embora lecione Matemática, e seja provavelmente a matéria mais odiada por todos, sou brasileiro, cidadão e formador de opinião também. Aliás, tive a minha opinião solicitada em quase todas as salas e séries em que entrei. E em todas elas debati o tema e aprofundei questões importantes, abdicando por ora das equações e da geometria plana.
       É realmente impressionante o quanto essas manifestações têm mobilizado a opinião desses jovens, muitos deles com dez e onze anos de idade (5.ª séries). E sobretudo o quanto eles sentem-se parte integrante de tudo o que esta acontecendo. A falta substancial de qualidade nos serviços públicos básicos de saúde, segurança e (obviamente) educação, serve-lhes como argumentos sofisticados de reivindicações, queixas e compreensão dos protestos. 
       Fiquei muito orgulhoso tanto dos alunos que participaram pessoalmente das manifestações na Marginal Tietê, quanto dos pequenos ao demonstrarem total e irrestrito interesse pela coisa pública.
       Para muitos falta, ainda, um conhecimento prévio de determinados tópicos, bem como um diálogo franco e aberto com a família sobre o tema, entretanto sobra-lhes curiosidade e até o desejo de modificar pessoalmente nossas imperfeições sociais.
       Opiniões contra e a favor, à parte, fiz questão de deixar sempre no ar o sentimento de que algo muito grande esta acontecendo, e que não podemos ficar de ora desta. Tentei plantar uma semente questionadora entre eles, desafiei-os a pensar nas mudanças que precisamos, e a ouvir e ver melhor o mundo onde vivemos. 
       Segue o trem!

       

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Utopia


       Vamos exercitar a fantasia nossa de cada dia:
       Uma das muitas soluções possíveis, para os problemas de indisciplina e violência nas escolas públicas, seria a criação de uma equipe disciplinar
       Explico-me:
       Esses profissionais, professores também, agiriam em apoio a coordenação e a direção da escola (sempre saturada) com poder de fiscalização e ação para convocar pais, advertir, suspender e até expulsar determinados alunos (atualmente chamado de transferência compulsória).
       Um problema típico (para dar um exemplo) é a circulação dos alunos pelos corredores e pátio da escola. Além de não estudar (na verdade eles não querem estudar) eles atrapalham e muito os professores em salas de aula.        Não há ninguém para controlá-los. Inspetores são impotentes e não têm poder administrativo sobre eles, e nada podem fazer efetivamente. No máximo, o que conseguem é adular cada um desses adolescentes a voltar pra sala, quando muito, transferindo o abacaxi para o professor (que já tem outros 40 alunos para dar conta).
       Mas esse é um trabalho de formiga. E inútil. Pois assim que podem, os mesmos voltam aos atos de delinquência dentro da escola livremente.
       Hoje, se o aluno é pego "cabulando" aula, ou depredando a escola, só há punição se os diretores da escola tiverem monumental boa vontade para fazê-lo (quase nunca há). Uma equipe receberia os nomes desses alunos e abriria procedimentos administrativos na tentativa de resolver a questão, e se esses alunos voltassem a "cabular" aulas, por exemplo, ou depredassem o patrimônio de todos nós, sofreriam as consequências do regimento escolar, e receberiam "penas" da mais leve até a mais grave.
       Atualmente, não há ninguém para cuidar desses casos. 
       Alunos que fumam e bebem nos banheiros, se drogam e picham a escola, ficam totalmente impunes. Eles quebram vidros, portas, janelas, pisos, azulejos, espelhos, mesas, cadeiras, lousas, lâmpadas, jardim, pias, torneiras, privadas, grades, forros e não há ninguém para investigar, apurar e punir os malfeitores
       Aqui, nossa escola foi pintada essa semana. Todas as lâmpadas e tomadas foram substituídas por outras novas. No dia seguinte já se via paredes pichadas e instalações elétricas depredadas. Ninguém sabe, ninguém viu. 
       Tristeza.
       É como se a escola não tivesse um "dono", um chefe ou um "líder". 
       Somos incapazes de agir (na verdade muitos de nós têm medo de fazê-lo), e vivemos refém de uma estrutura caótica, de um sistema que não funciona e não que gera frutos. 
       Tristeza sem fim. Excesso de caos.



quarta-feira, 19 de junho de 2013

Professor!



      Na escola pública agora estamos em semana de conselho escolar. É interessante. E funciona assim: 

      Os alunos entram, sentam-se acompanhados de seus pais e, um a um, todos os professores falam de cada aluno. Seu aproveitamento, notas, faltas, etc. Além dos elogios e das críticas referentes ao atual bimestre.
      Em todos esses anos, em todas as escolas, tudo é igual: muitos alunos faltam, os pais e a família são eternamente ausentes, e acaba-se fazendo um conselho escolar apenas com os alunos estudiosos, medianos e disciplinados. Observadas raras exceções, é claro.
      No geral, o que não muda é o professor. Em todas as escolas encontra-se as mesmas figuras de sempre: os resmungões, os apressados, os faltosos e os intransigentes. Às vezes falta a compreensão de que estamos lhe dando com a educação e com o futuro efetivo de centenas de jovens e crianças. Pressa, queixas e intransigência não ajudam em nada. 
      Outro tipo de professor encontrado é o cansado; vejo muito destes ao longo de todos os anos. São os primeiros a nos aconselhar a procurar outra profissão. Desista em quanto  é tempo, me disse um deles. Você ainda é jovem (eu era jovem na época), vá ganhar dinheiro e garantir o seu futuro, completava.
    Às vezes, em dias conturbados e de tumulto, penso muito nessas recomendações. 
Não sofrer problemas de violência, banditismo diário, ou mesmo ter maior independência financeira, fazem parte do meu ideal de vida. Mas tudo isto esta distante agora. Não dou aulas por ideologia ou mera vocação (talvez um pouco de cada, sei lá), mas por sentir que faço isso melhor que qualquer outra coisa. 
      Só desejo ter melhor estrutura de trabalho, no mínimo, equivalente às cobranças que a sociedade nos faz.
      Caos. Cansaço. Recesso chegando.



terça-feira, 18 de junho de 2013

Atenção (parte 1)


      Ainda não esta claro para algumas pessoas, por isso vamos repetir: 

NENHUM ALUNO PODE REPETIR DE ANO EM SP!!

      Pronto, desabafei. Já me sinto melhor...

      Explicando:
      Quando a criança entra na 1ª série, ele será aprovado automaticamente até a 4.ª série. 
      Ainda mais:
      Quando entra na 5.ª série, será também aprovado automaticamente até a 8.ª série. 

Simples assim.

Pergunta: e se o aluno não souber ler e escrever?
Respostaserá aprovado assim mesmo.
Pergunta: com assim?
Respostaele não é reprovado em hipótese alguma (só por excesso de faltas)
Pergunta:  então ele chega ao Ensino Médio sem saber nada?
Respostaé isso mesmo.
Pergunta: e como eles farão para entrar na Universidade?
Respostanão precisa fazer nada, eles têm cotas, bolsas e o Prouni.
Pergunta: mas continuarão sem saber de nada?
Respostasim (caso consigam), carregando uma defasagem escolar de anos.
Pergunta: que absurdo!
Respostapois é.
Pergunta: e os professores, o que pensam a respeito?
Resposta: são contra, reclamam, gritam, mas isso não tem importância.
Pergunta: como assim?
Resposta: parte dos professores são cúmplices, de certo, com tudo isso.
Pergunta: explique-se melhor.
Resposta: os professores (assim como a direção escolar) pode reprova-los nas 4ª e 8ª séries, bem como durante todo o ensino médio (1º, 2º e 3º anos). Mas não o fazem.
Pergunta: porque?
Resposta: bem, isso é ótimo tema para um próximo post... a seguir:





.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Atenção (parte 2)

      Porque a escola não reprova?
      As razões são muitas. E do primeiro dia em que comecei a trabalhar com educação, até hoje, me assusta a passividade e a falta de organização de muitos dos meus colegas professores.
      Temos ferramentas, sim, para reprovar alunos sem o mínimo de condições necessárias. Isso se dá somente uma vez ao final de cada ciclo (de longos 4 anos, é verdade) mas é a nossa única chance, e é melhor do que nada! 
      Mas o que ocorre? Vendamos os próprios olhos e damos as mãos ao caos. Aprovando alunos inaptos e passando o problema adiante.
      Ouvi de professores, diretores e coordenadores de escola:

"que adianta reprova-lo agora, se ele não aprendeu nada mesmo até aqui?"

"se eu o reprovar, terei que suporta-lo outra vez ano que vem!"


"e o nosso bônus? Eu quero receber meu bônus! Vamos aprovar todo mundo!"


"não é minha responsabilidade se ele não estudou, vamos passo-lo  e pronto!" 


      E para os alunos do último ano do Ensino Médio:
"se a gente reprova-lo, ano que vem ele continua aqui, sem fazer nada de novo. Todos nós o aprovamos e o mandamos embora!"

      Ou seja, temos como (ao menos) dirimir o tamanho dos nossos problemas, retendo e reprovando uma série de alunos que tumultuam a escola, atrapalham e destroem o patrimônio público, mas não o fazemos de forma deliberada. Simples assim.

      Às vezes penso que somos reféns de nós mesmos. É o caos


domingo, 16 de junho de 2013

Superlotação 1


          Uma vez um professor me expôs uma teoria radical:
      Nenhuma pessoa deveria ser obrigada a estudar além da 5ª série. Simples assim.
        Para ele, a universalização da educação entulhou as salas de aula de maneira imoral. Incluímos todos na escola, mas esta não cresceu. E provavelmente jamais crescerá efetivamente.
        Observo meus alunos no dia a dia, entre tantos problemas, e percebo com clareza que o inchaço das classes é aterrorizante. É humanamente impossível oferecer-lhes o mínimo de conhecimento. As defasagens são inúmeras e o tempo demasiado pouco. E não falo da quantidade de aulas (pois nas escolas estaduais de São Paulo são 6 semanais, de 50 minutos cada), mas das infinitas demandas que surgem dentro de tão poucas condições de trabalho.
       Em colégios particulares e em algumas escolas da prefeitura de São Paulo têm-se salas com não mais de 20 alunos. É um começo e tanto! A aula flui melhor, dá pra tirar dúvidas um a um e parece que o conteúdo discorre melhor pela classe.
       Mas esse parece um sonho distante (o de ter o máximo de 20 alunos).
           À época eu perguntei-lhe: “e o que as pessoas fariam da vida, estudando apenas até a 5.ª série?”. Ele riu-se, e respondeu: “e o que elas fazem hoje com o ensino médio completo?”
      Para ele, os que se interessassem em ir além buscariam os cursos técnicos e profissionalizantes. Estudariam diretamente por uma profissão.
      Parece esdrúxulo para quem observa de fora, mas do lado de dentro, é angustiante ver centenas de alunos sendo “obrigados” a frequentar a escola por conta de suas idades. No passado, ele completou, não era assim a escola pública? Os alunos eram “admitidos” ou não no Ginásio. Na mesma época, aliás, que tantos dizem que o ensino era melhor. Coincidência?


sábado, 15 de junho de 2013

Superlotação 2


      É lógico que limitar as pessoas de estudar além da 5ª é uma piada, uma forma de externar uma insatisfação universal dos professores.
      Mas, de novo, e como quem observa a historia pelo lado de dentro, eu faço a seguinte indagação: quantos jovens preocupam-se de fato com os seus estudos? Quantos, dos mais de 40 alunos das salas de aula que temos, preocupam-se com o próprio futuro e preparam-se efetivamente para ele?
      Por experiência, posso contar nos dedos de uma mão. Da mão do Lula, aliás.
      E não se trata de convencê-los, de seduzi-los ou de criar uma aula mais interessante, e atrai-los para mais perto do conhecimento. Nada disso.
      Trata-se mesmo de um desinteresse completo e totalmente generalizado.
    Se antes estudávamos para ser alguém na vida, para termo melhores condições de vida, hoje esses jovens e crianças tem tudo o que precisam: tênis de marca, vídeo game, TV a cabo e notebook (para citar apenas alguns itens) e o seu comodismo é visível em nosso dia a dia.
         O desprezo desses jovens pelo conhecimento é brutal, e é consciente.
    Os professores sentem-se como estúpidos, retardados, elaborando métodos diferenciados para falar de coisas que todos precisam aprender: equações, gramatica etc. Mas ninguém se interessa. Sempre foi assim, é verdade, mas é consenso também que isso hoje esta muito pior.
      Por essa razão (mesmo que eu não concorde) entendo por que muitos colegas entram no "piloto automático" e deixam o barco seguir rumo a lugar algum. Se um estudante desejar algo melhor, terá mesmo de seguir por conta própria. O que também é péssimo. Mas, já não é assim há muito tempo?
      Só posso dizer uma coisa: caos.


sexta-feira, 14 de junho de 2013

GAP


      Me parece muito claro que o passado nos deslumbra.
      As manifestações ocorridas essa semana, contra o aumento  de 20 centavos na tarifa de ônibus, mostram com clareza os integrantes de cenário: estudantes universitários, de faculdades públicas, bem nascidos, bem amparados, que na sua maioria não utilizam o ônibus como transporte (se assim fosse não pichariam ou ateariam fogo nos mesmos), e que precisam desesperadamente de uma causa que lhes faça jus. 
      Ao longo de boa parte do século 20, as universidades públicas foram o celeiro de grandes pensadores, pesquisadores e nomes dos mais variados ícones da nossa sociedade. Bem como na luta contra a repressão e ditadura militar. Mas, hoje, quais causas restaram para esses jovens? Eis a questão...



      Deve ser difícil, para eles, verem pelo retrovisor toda a história que os precede. A grandiosidade das lutas, a responsabilidade pelo avanço, a liderança e a vanguarda, sem imaginar-se como um rebelde sem causa.
      Então a prefeitura aumenta o valor da passagem, e tome protesto. E tome depredação, bancas de jornais, vidros, estilhaços e incêndios criminosos. Abaixo a repressão! Imperialistas! Lacaios subalternos do 1º mundo!
      Curioso ninguém reclamar assim das PEC's criminosas que tramitam na Câmara e Senado. Ninguém protestar contra a Aprovação Continuada, o fato de um garçom no Congresso ganhar mais que um médico e professor juntos, etc.
      Me lembro agora daquela imagem que ficará na história: a de um 'estudante' na USP protestando contra a PM (de novo?), usando roupa de marca , tomando cerveja e destruindo o patrimônio público. Ai, ai.
      A realidade é outra do lado da cidade.



quinta-feira, 13 de junho de 2013

Só + organização


      A sala de aula esta lotada. Hoje entraram mais dois alunos (gêmeos) para somar um total de 40 alunos. Caos. Lógico.
      É impossível atender a todos, é improvável que eu saiba seus nomes até dezembro. Enquanto copiam os exercícios da lousa, com a lentidão típica de uma 5.ª série, observo do canto uns poucos forçando as vistas para enxergar os números. Outros, mais lentos ainda, fingem copiar para disfarçar o analfabetismo. Enquanto uma meia dúzia se destaca e faz tudo de forma rápida, eficiente e correta. Mas esses são a minoria, claro.
      Nas periferias da sala uma imensidão de desinteressados, preguiçosos e indisciplinados cumprem à risca a rotina de tumultuar a aula. Antigamente essa turma sentava-se no fundão. Era só ignora-los e tudo estava certo. Hoje, são como a nova classe média: tão artificial quanto insustentável. Estão espalhados por todos os cantos e fazem mais barulho do que produzem.
      Tento explicar o básico de Potência: fracasso. Então reviso multiplicação, e observo que poucos sabem sequer qual é a centena, a dezena e a unidade: cansaço.
      Berro pela terceira vez para um, para outro e assim sucessivamente.
      Passo outra lista de exercícios (dessa vez facilito ainda mais) e noto que o cenário se repete: os espertos terminam rápido, os analfabetos simulam e os problemáticos tentam manipular celulares, alimentos e cigarros por debaixo das carteiras: frustração.
      Há anos quando entrei numa sala de aula pela primeira vez alguns colegas já veteranos riram de mim (como boas vindas), e disseram para desistir. Hoje, após alguns poucos anos, vejo soluções mais do que vejo problemas. E posso garantir que toda solução é factível e esta ao nosso alcance. 
      Falta organização. É isso. Falta muita organização e aposto que, apenas isso, ajudaria em mais de 50%.
      Eu estou submerso no caos.




quarta-feira, 12 de junho de 2013

Lá e cá


      Comparações são horríveis, eu sei.
      Mas lecionando em 2 escolas tão diferentes o dia inteiro, particular de manhã e pública a tarde, é impossível não ser confrontado por 2 realidades brutalmente opostas.
      Na particular, os donos da escola circulam pelo “estabelecimento” vigiando, como quem cuida do seu patrimônio, observando a ordem e as demandas do dia. Quase todos os problemas são resolvidos (ou pelo menos encaminhado).
      Na pública a vigilância é branda, mansa, molenga. Ninguém é dono de nada porque o que é público não tem dono. Inspetores e funcionários não têm poder efetivo, e ninguém sabe ao certo quais são as regras (é possível que nem existam).
      Na escola particular os alunos, professores e funcionários são cobrados integralmente. As vezes, a corda sempre arrebenta pro lado dos professores. E é preciso caprichar no trabalho pois certamente seremos cobrados por isso. Por cada palavra, cada gesto e todas as atitudes.
      Na escola pública a única cobrança é a íntima e pessoal de cada profissional. Pais, alunos e a comunidade não se importam com resultados. Se o aluno passa de ano, tudo bem. Se ele não aprende, tudo bem também. É terra de ninguém e todos estão surdos.
      O mais triste é dizer que a escola pública (tão marginalizada e abandonada) paga muito mais e melhor que as escolas particulares. E que em ambas os professores são os mesmos.
      Em ambas, também, temos todos os tipos de alunos, dedicados ou não. A diferença fica mesmo na estrutura e organização: o que gera respeito e seriedade por parte de todos.
   Para mim, uma lista reduzida de soluções ajudaria a resolver parte substancial dos problemas da escola pública: a primeira é que a escola TEM SIM que ter um “dono”, um “chefe”, um líder que tome as rédeas e que solucione os problemas doa a quem doer. Entre muitas outras coisas.
      Em todas as escolas em que trabalhei (foram cinco diferentes, em 5 anos) sempre que um diretor tentou ser o “chefe”, tentaram derruba-lo. E conseguiram.
      Caos. Ódio. Decepção.



.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Escola de 1940


      Uma imagem mexeu comigo: a comparação simplória da escola dos anos de 1940 e da atualidade, feita pelo Prof. Joamir de Souza, numa palestra em Interlagos, São Paulo.
      Qualquer idiota é capaz de compreender que o mundo mudou muito desde então. Tudo mudou, aliás.
      Entretanto, como foi dito na ocasião, a escola NÃO. Uma pena. Que vergonha.
      Sou professor e certas notícias me atingem, me incomodam diretamente. Fiquei pensando na comparação, sobre a escola de ontem e a de hoje. Como é possível moderniza-la? O que fazer para causar maior interesse nos alunos?
      Busco e rebusco na internet por novas ideias, opções de aulas etc., mas muito pouco ou nada eu encontro. Dialogo com colegas e troco impressões, ouço experiências, mas tudo é muito vago e inconsistente. 
      Como sempre, toda a inovação deverá ser feita pelo professor de próprio punho e risco. Não há caminho, nem experimento. Não boas ideias ou projetos que deram certo. O que há, de fato, são muitas e muitas reclamações. Segue assim a educação básica do nosso país, com profissionais perdidos e agindo por intuição ou regras automáticas.
      Barulho. Queixas. Caos.



segunda-feira, 10 de junho de 2013

Professor x Aluno


           Tem professor que também uma droga.
       A minha rotina em sala de aula resume-se basicamente em tentar convencer um bando de jovens alucinados, que o que lhes ofereço é importante e essencial para o seu futuro.
       Já a minha rotina na sala dos professores é observar as queixas, reclamações e indignações dos colegas de profissão, acerca da inacreditável alienação e desinteresse dos alunos pelos estudos.
       Quão grande é a minha ira ao observar que certos Professores e alunos “ruins” se parecem em demasia. Explico-me:
       Ao assistir a palestra no encontro com o Prof. Joamir Souza, bem como em todas as palestras direcionadas para professores que vou , noto com bastante pesar que muitos colegas (assim como os piores alunos que temos) não dão a mínima atenção ao que esta sendo falado. Pior: reclamam de tudo, querem ir embora, queixam-se das explanações quando são longas, comentam entre si com inúmeros gracejos, riem entre si, resmungam entre si, e isso o tempo inteiro.
       Uma droga.
       É triste, mas é fato que muitos colegas (mais do que o mínimo aceitável) comportam-se como os alunos “alienados” que tanto combatemos dia a dia. Mais ainda: atacam neles os traços que também possuem. Uma pena. Uma droga. 
       É o caos.


domingo, 9 de junho de 2013

Não é brincadeira! (parte 039)

Da série "escola não é brincadeira":



(Ótimo. Agora só falta formata-lo...)