segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Laís (In Memoriam)

(Retrospectiva - parte 1)

Foi um sopro do tempo, uma fração menor que a do segundo...
             Em 2013, pela primeira vez em minha carreira, perdi uma aluna em pleno ano letivo. Foi um soco. Um sopro do tempo. Uma angústia que levou-nos em menos de um segundo.
             Naquele mesmo dia, pela manhã, Laís foi até minha mesa e quis saber sobre a sua nota na prova de Matemática. Eu abri o diário, conferi seu número de chamada e lhe disse. A nota estava abaixo do seu retrospecto.
             - Poxa vida, já tivemos dias melhores, não?
              Ela sorriu.
              - Mas depois melhora! - disse, e voltou para o seu lugar.
              Algumas horas mais tarde e ela já não estava mais entre nós. Foi um soco. Um sopro violento do tempo.
               Foram um ano e meio de convivência (8.º e 9.º anos). Laís era exigente, estava sempre à frente da sua turma e fazia tudo primeiro. Era comum vê-la entediada durante as muitas revisões (ela já sabia de tudo aquilo) desenhando ou lendo um livro qualquer enquanto eu ajudava outros colegas com maiores dificuldades. Foi um sopro.
               Ainda naquela mesma manhã, a última manhã, fiz uma piada qualquer no meio da aula e todos riram muito. Ela também riu. 
              - O que você tomou hoje, professor? - perguntou-me em meio a risadaria. 
               Foi a última vez que nos falamos.

               Ninguém sabe o que há do outro lado da vida. Não há nenhuma evidência, mínima, que me faça crer verdadeiramente, mas eu espero que o desejo e a esperança da maioria conforte-os (especialmente a família) nesse fim de ano que se aproxima. E aqui fala não apenas um professor, mas um pai que há muitos anos também perdeu uma filha.
                Em minha mente paira somente o lamento de uma vida inteira perdida, o desperdício do destino, que agora nunca mais voltará. Ficou o sorriso daquela manhã, a ironia e o sarcasmo de sempre, e a alegria de quem não tem pressa. É preciso mesmo amar as pessoas, como se não houvesse amanhã. 

                Laís, você me ajudou nesse aprendizado. Você passou de ano. Parabéns...

(In Memoriam)



                Sem caos.