quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Menor

          

          Tenho uma pequena aluna, à tarde, que toma 2 ônibus para ir para a escola, e outros 2 para voltar para casa. Por esse motivo ela falta bastante e, talvez pelo cansaço, a sua disposição e a prática em sala de aula são bem abaixo do esperado.
           Ela tem apenas 11 anos, olhos azuis, e é dentuça como a Mônica. Sempre a vejo na saída esperando pelo ônibus, sozinha, tão desprotegida e vulnerável quanto um bichinho inofensivo. Pelo que me disse, seus pais são separados e ela passa uma semana na casa de cada um. Parece uma vida dura essa, como a de tantos jovens Brasil adentro.
           Na última semana, quando choveu bastante e o frio cortava a pele, eu a vi sozinha no ponto de ônibus na hora da saída. A rua estava deserta. E eu temi pela sua segurança. Olhei para um lado e para o outro: ninguém. Parecia um filme de suspense, num cenário soturno, como se algo terrível pudesse acontecer a qualquer momento. Fiquei extremamente angustiado, preocupado com a sua segurança.
           Pensei em lhe dar uma carona, ao menos até o Terminal de ônibus, mas tive que desistir. Vivemos tempos difíceis atualmente.
            O que pareceria, à distância, ver um homem adulto e estranho levando uma criança em seu carro? 
            Eu sei, foi o que eu pensei também. 
            Por isso não tive coragem de auxilia-la mesmo estando desconfortável. Deixei-a sozinha.
            Às vezes não basta ser honesto, temos que parecer também honesto.
            Encostei junto à calçada e fiz de conta que esperava por alguém, ela nem me viu. Aguardei quase 15 minutos até que o transporte coletivo viesse. Quando então ela entrou, passou pela catraca, e eu me senti mais seguro.

            Eu não gosto de viver nesse mundo. 
            Ao menos não num mundo onde tudo é somente caos.