Um exemplo real:
Tenho um aluno com péssimas notas, pequeno e franzino, que
não se dedica às lições e que sempre é chamado a atenção. Para ele a escola é um fardo, nada lhe interessa.
Os professores se queixam, eu também me
queixo, e tudo que ele faz é olhar para o chão (pois ainda tem 11 anos e ainda obedece à certas ordens).
Desde o começo do ano suas dificuldades são extremas, e seu
desinteresse é imenso (não dá pra saber o quê vem antes ou depois).
Para ele o mundo é o seu boné, seus cadernos de desenho
e arte que pratica. Sim, ele é muito talentoso. E toda a sala já percebeu isso.
Fico imaginando esse menino, como tantos milhões de outros e com talentos diversos,
sendo coagido e pressionado a estudar o que não quer, o que não lhe interessa, e o que não fará
diferença alguma em sua vida.
É mesmo injusto empurrar-lhe uma infinidade de
conteúdos desnecessários, matérias e mais matérias, e não aproveitar tamanha
facilidade com a sua arte. Fico constrangido em obriga-lo a estudar Potência de
um número Inteiro, por exemplo, sabendo que ele na verdade bem poderia ser um
grande desenhista, projetista, engenheiro (e só a partir de então mergulhar no mundo dos cálculos, quando então for o caso). Deveríamos deixar a intuição vir primeiro, a leveza de ser, de fazer com prazer. Mas não.
A verdade é que, em poucos anos, ele será vencido pelo
Sistema. Em pouco anos ele se lembrará da escola como algo negativo, ruim, e
sentirá alívio por tê-la deixado. Pior: terá provavelmente desistido também dos
seus desenhos, da sua arte, tamanha pressão e coerção, sem notar que a escola poderia tê-lo ajudado (mas não ajudou).
Terá aceitado um
subemprego qualquer. Perderá as suas maiores chances e oportunidades após
tantas e tantas reclamações, queixas, críticas e opressão, para que aprenda
somente o que a escola deseja que ele aprenda. Para que se comporte como um robô e não reaja, não saia do script, não goze.
Isso sim é o caos, em seu mais alto grau de refinamento.