Parte 2: cobrador
Alguém aí é capaz de me dizer pra que serve o cobrador de ônibus?
Eu posso dizer: para lembrar aos passageiros que eles têm uma vida de merda.
Não basta a demora dos ônibus, a sujeira e o trânsito, nada disso é suficiente, é preciso que exista um cobrador de ônibus mal educado, estúpido e mal humorado, retransmitindo a sua própria frustração e infelicidade profissional (pois nenhum menino sonha em ser cobrador de ônibus quando crescer, claro).
Fico observando, de longe, quantos maus tratos uma única pessoa é capaz de praticar num único percurso de ida. É impressionante. Os passageiros pedem informações, simplesmente, e poucos respondem corretamente (quando respondem). Sem falar do sono atrasado da maioria. Ser cobrador de ônibus é ser capaz de dormir todo o trajeto sem ser incomodado (e de fato não o são).
Outro dia eu contei: dos mais de 120 passageiros que passaram pela catraca apenas 7 precisaram do cobrador para alguma coisa: idosos ou passageiros especiais, para validação do bilhete eletrônico. E nada mais.
Num mundo de tecnologia intensa, com ônibus biarticulados e letreiros em LED, custa-me entender para que servem essas pessoas que pouco ajudam, que encarecem o custo da passagem, e que vivem para fazer da nossa viagem um experiência um pouco pior. Sem falar, ainda, dos cobradores das peruas e micro ônibus, enlouquecidos, enfiando mais e mais pessoas dentro dos veículos (onde há 40 onde cabem apenas 24)...
Não faz sentido, como tudo que é público, que tenhamos que pagar esses profissionais para tão pouca utilidade. Pior: que eles existam para nos mostrar o quanto é ruim viver dentro de um ônibus. É o caos dormindo na janela.