terça-feira, 12 de novembro de 2013

Crenças (Parte 5)

Quando o conhecimento científico e a lógica são descartados, o que nos resta é a barbárie, o abismo profundo da fanatismo e a não evolução. Quem estiver disposto, que se aventure. Eu não.


(Richard Dawkins: professor, biólogo, evolucionista e ateu)


               Havia um tempo em que pessoas morriam se não aceitassem uma crença, se a negassem ou se propagasse ideias contrárias aos seus interesses. Hoje, contudo, a desfaçatez embute-se em ideias estúpidas e pouco inteligentes. Mas que incutida no inconsciente coletivo, parece-se tanto com uma verdade absoluta tanto quanto o luz do dia.
               Isso ocorre, por exemplo, quando falamos de temas genéricos tais como o poder dos médicos: quando o paciente é curado, diz-se que foi a mão de deus. Quando o paciente morre, é incompetência mesmo.
               Basta assistir aos programas religiosos diários de TV para notar o quão ignorantes ainda estamos, e o quanto o povo ainda é carente de cuidados específicos de saúde, segurança e moradia (entre tantos). Mais ainda: é carente basicamente de conhecimento acerca do mundo que os cerca. Uma pessoa bem esclarecida nota que a total ausência de lógica nas justificativas religiosas são, no mínimo, grotescas.
              Há duas semanas um aluno desabafou a sofrimento e a agonia de sua família, pelaquerida  avó enferma, e os esforços e súplicas religiosas para que ela melhorasse. Explicou com detalhes as correntes de orações, madrugadas após madrugadas, bem como o dízimo, o líder religioso, as dores, as tristezas, os sentimentos a flor da pele e toda a angústia familiar em volta da anciã enferma. Pois, para deus, nada é impossível - ele ratificou
             Dias atrás o aluno faltou algumas aulas e, quando reapareceu, comentou do falecimento da avó. Seu desencanto e sua imensa consternação me tocaram. Senti por ele. Pela esperança desfeita. Ele estava de fato muito transtornado.
             - Pedimos tanto por ela e não fomos ouvidos! O que você acha, professor? 
             Eu não lhe disse nada. Não me senti nesse direito. Às vezes é melhor deixar que cada um aprenda com suas próprias tragédias pessoais.
              - Minha mãe disse que essa foi a vontade de deus. Mas por que, então, tivemos que rezar tanto se deus havia decidido tudo?
                Eu sorri. De certa forma ele já havia descoberto a resposta: a única coisa que realmente nos cerca é caos.