terça-feira, 15 de julho de 2014

Dia #2:

Recomeço. Segundo dia.



           Estou na sala dos professores. Ainda não é 7 da manhã.
           Ouço queixas, reclamações e resmungos dos novos colegas. 
           Não conheço ninguém, não sei qual é o assunto, mas sei que estão falando dos alunos.
           No fundo toda escola é igual: reclamamos, sofremos e adoecemos trabalhando em sala de aula, mas somos impotentes para encontrar as soluções...
          Volto às salas de aula. Mesmo cenário. Alunos ouvem música, dançam e se agridem verbalmente. Meninas são xingadas e riem como se fosse um elogio. Meninos agem como um gorila "rei da selva". Eles têm 16 e 17 anos, e refletem o completo descaso e ignorância frente ao caótico sistema de ensino público. 
         É a primeira vez que me sinto perdido, completamente desanimado. As mudanças foram repentinas [e eu não queria que assim fossem] e é preciso ter calma, e força.
        Sinto-me estranhamente como naqueles filmes de escolas americanas, onde o(a) professor(a) tenta resgatar alunos marginalizados e totalmente alienados. Como nos filmes, aqui também ninguém quer ser salvo. Aliás, ninguém imagina que precisa ser salvo de coisa alguma. Todos estão bem e dançam...
       Mais de 45 alunos e pelo menos trinta deles verificam as últimas postagens no Facebook. Inacreditável. Sim. Estou numa terra sem lei. Num ambiente inóspito. No centro do caos.
       Faço chamada, mas ninguém me ouve. O barulho é absurdamente grande. Paro alguns segundos para pensar e observo o cenário desolador: como é que chegamos a esse ponto? Como é que a escola, antes respeitada e disputada, perdeu o seu valor e interesse por completo?

      Uma menina, junto a minha mesa, me olha silenciosa. Parece que esta com pena de mim. Na verdade, o que ela não sabe, é que é justamente o inverso...




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