Recomeço. Segundo dia.
Estou na sala dos professores. Ainda não é 7 da manhã.
Ouço queixas, reclamações e resmungos dos novos colegas.
Não conheço ninguém, não sei qual é o
assunto, mas sei que estão falando dos alunos.
No fundo toda escola é igual: reclamamos,
sofremos e adoecemos trabalhando em sala de aula, mas somos impotentes para
encontrar as soluções...
Volto às salas de aula. Mesmo cenário. Alunos ouvem
música, dançam e se agridem verbalmente. Meninas são xingadas e riem como se
fosse um elogio. Meninos agem como um gorila "rei da selva". Eles têm
16 e 17 anos, e refletem o completo descaso e ignorância frente ao caótico
sistema de ensino público.
É a primeira vez que me sinto perdido, completamente
desanimado. As mudanças foram repentinas [e eu não queria que assim
fossem] e é preciso ter calma, e força.
Sinto-me estranhamente como naqueles filmes de escolas
americanas, onde o(a) professor(a) tenta resgatar alunos marginalizados e
totalmente alienados. Como nos filmes, aqui também ninguém quer ser salvo.
Aliás, ninguém imagina que precisa ser salvo de coisa alguma. Todos estão bem e
dançam...
Mais de 45 alunos e pelo menos trinta deles verificam as
últimas postagens no Facebook. Inacreditável. Sim. Estou numa terra sem lei.
Num ambiente inóspito. No centro do caos.
Faço chamada, mas ninguém me ouve. O
barulho é absurdamente grande. Paro alguns segundos para pensar e observo o
cenário desolador: como é que chegamos a esse ponto? Como é que a escola, antes
respeitada e disputada, perdeu o seu valor e interesse por completo?
Uma menina, junto a minha mesa, me olha
silenciosa. Parece que esta com pena de mim. Na verdade, o que ela não sabe, é
que é justamente o inverso...
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