segunda-feira, 11 de abril de 2016

TUDO DO MÍNIMO

A educação pública no Brasil é um eterno projeto do projeto...

           Hoje foi um dia de prova. Dia de avaliar alunos e alunas da sexta série, verificar se compreenderam bem o que estudamos, se absorveram ao menos o mínimo que se espera. A rotina numa sala de aula em escola pública é relativamente simples, professores e estudantes precisam de poucas coisas, em geral, para alcançarem o desempenho desejado. Acontece que é esse pouco, justamente, o que não temos. Falta o básico. Falta tudo.
           Estamos na maior região metropolitana da América Latina, no Estado mais rico do Brasil, e não temos sequer papel higiênico para os alunos. E isso há meses e meses. Não temos sequer folhas para imprimir provas e atividades. Não temos impressora. Os computadores nem sempre funcionam. Não temos cartolina, não temos nenhum material de papelaria. Nada. Hoje os alunos tiveram que arrancar uma folha dos cadernos para realizarem a prova.  E isso foi sempre assim...
           Fala-se muito no desenvolvimento e avanço da educação no Brasil, especialmente a pública, Pátria Educadora, etc. Eu vejo e ouço tudo isso com resiliência. Até com um pouco de tristeza. Nosso verdadeiro avanço passa pelo mínimo, pelo abandono extremo, por uma mísera máquina de xerox, um punhado de folhas de sulfite para prepararmos trabalhos, atividades e avaliações. Por uma escola bem pintada. Bem iluminada. Por profissionais motivados e bem remunerados (o que é difícil com salário base de R$ 1.400,00 e vale refeição de apenas R$ 8,00). Passa também por segurança de verdade nas escolas que mais necessitam. Por mais liberdade pedagógica e, voltando ao início, do básico e essencial.
               Olho todos os dias meus colegas de trabalho e vejo neles uma frustração crescente. Boa parte já desistiu. Não vale a pena. Lutamos contra algo gigante, cruel e invisível. Lutamos contra o descaso e a falácia de que a educação pública de qualidade é importante. Mas não é. Se o fosse, teríamos a elite dentro das escolas públicas, filhos de políticos, de gente importante, e até mesmo da maioria dos professores e professoras que lá trabalham. Estamos abandonados. Se fôssemos uma empresa privada, teríamos falido há 50 anos ou mais.
                Bem vindo ao caos.